GÊNIO INDOMÁVEL - CRÍTICA
Drama enfatiza redenção e fraternização
CHRISTIAN PETERMANN
crítico do Guia da Folha
À época do lançamento de "Gênio Indomável", em 97, o cineasta Gus van Sant foi por muitos críticos acusado de ter se rendido à dramaturgia convencional e "mainstream". O filme reveste-se de roupagem edificante, por se tratar de um misto de drama de formação, de redenção e de fraternização.
E o diretor tornou-se expoente do cinema "indie" com trabalhos inquietantes como "Drugstore Cowboy" (89) e "Garotos de Programa" (91). Até mesmo a comédia negra "Um Sonho sem Limites" (95), com grande atuação de Nicole Kidman, ainda tinha um quê de irreverente quanto ao moral e ao social.
Já o roteiro original da dupla de amigos Matt Damon e Ben Affleck, que lançou o nome dos dois à ribalta, serviu de base para Van Sant, na verdade, apenas experimentar um outro registro emocional e narrativo.
Em si, ele continuou a trabalhar com o tema mais recorrente de sua filmografia, o retrato do jovem norte-americano. Em um nível muito mais elaborado do que o praticado pelo sensacionalista Larry Clark ("Kids"; "Ken Park"), Van Sant faz de "Gênio Indomável", junto a "Encontrando Forrester" (00), uma ponte entre os filmes já citados e os posteriores e experimentais "Gerry" (02) e "Elefante" (03).
E assim como em "Forrester", o diretor trata do desabrochar de um jovem a partir do contato didático com um veterano.
O novato aqui é o faxineiro que dá nome (original) ao filme, Will Hunting (Damon), um gênio adormecido da matemática, enquanto que o mestre que o levará à auto-descoberta é o psiquiatra Sean Maguire (Robin Williams, com justificado Oscar de coadjuvante), com um trauma no passado.
O embate interpretativo entre os dois atores responde pela maior força da obra, pois nos diálogos travados estão pontuados os grandes temas do roteiro. As cores quentes e terrenas da fotografia do mestre francês Jean Yves Escoffier e a trilha sonora repleta de canções, em especial do inspirado cantor neo-folk Elliott Smith, ressaltam o intimismo buscado por Van Sant. "Careta" ou não, este filme se mantém digno na expressiva carreira do cineasta.
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