ENTRE QUATRO PAREDES - CRÍTICA
Filme revela segredos por trás da fachada da sociedade
CHRISTIAN PETERMANN
crítico do Guia da Folha
É muito raro Hollywood deter-se com realismo nas intimidades pessoais que se escondem "Entre Quatro Paredes". Mas o filme de Todd Field, ator ("Twister"; "De Olhos Bem Fechados") que se tornou diretor, e aqui também co-autor do roteiro, é um raro escrutínio dos segredos que se escondem por trás de fachadas, do lado sombrio da alma humana, das inquietudes nas relações matrimoniais apáticas, da existência doente da sociedade norte-americana.
O texto é a adaptação de um conto de Andre Dubus, escritor e amigo pessoal de Field, que morreu em 99 e a quem o filme é dedicado. Esse intimismo emocional é saliente em toda a obra.
A dimensão dramática do entrecho não teria sido alcançada por Field não fosse ele um promissor diretor de atores e não tivesse ele conseguido reunir um elenco tão perfeito. Além de ter dado uma nova chance de protagonista para Sissy Spacek, depois de anos em papéis menores ou feitos para a TV, o cineasta teve a felicidade de contar em especial com os talentos de Tom Wilkinson e Marisa Tomei, aqui em seu retorno ao brilho da ribalta.
O que se nota, no casting, não é a busca do rosto famoso e identificável, mas do ator capaz de explorar em profundidade sutilezas de pessoas comuns.
Mexendo com vara curta, mesmo que silenciosa, em temas como racismo, violência doméstica, vingança pessoal e a busca pela harmonia familiar, "Entre Quatro Paredes" incomoda o espectador, mesmo prendendo sua atenção. Este vê-se envolvido nos dramas e tragédias da família Fowler, até ser confrontado com uma conclusão surpreendente e, para alguns, chocante.
Nessa investigação do autêntico espírito americano, defende-se que atos extremos às vezes são necessários para recolocar a ordem nas coisas. É uma lição dura, tratada de forma digna por Field.
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