REGRAS DA VIDA - CRÍTICA
Sueco reforça comoção do livro para o filme
CHRISTIAN PETERMANN
crítico do Guia da Folha
O título brasileiro para "as regras da casa de cidra", "Regras da Vida", é genérico demais, mas acaba por revelar a textura edificante que rege o filme. Vista sob este prisma, aliás, esta obra torna-se digna de figurar entre o melhor da filmografia do cineasta sueco Lasse Hallström, que sempre se caracterizou por dramas humanos de destacado potencial de comoção, como notável em "Minha Vida de Cachorro" (85) e "Gilbert Grape - Aprendiz de Sonhador" (93).
O que mais impressiona aqui, na verdade, é o fato de o roteiro ser do escritor John Irving, que adapta seu próprio romance. O desenvolvimento reverente e quase dogmático de "Regras da Vida" distancia-se anos-luz de outras duas versões de obras de Irving perpetradas por ele mesmo, "O Mundo Segundo Garp" (82) e "Um Hotel Muito Louco" (84), admiráveis comédias de humor negro.
O espectador acompanha o aventuroso ingresso no mundo adulto de Homer Wells (Tobey Maguire, provando ter estofo para personagens complexos), órfão nunca adotado, que cresceu como pupilo do diretor e médico do orfanato, Wilbur Larch (Michael Caine, numa interpretação que o recolocou no mapa). Mas na urgência de mergulhar no mundo, o jovem um certo dia parte com um casal, Wally (Paul Rudd) e Candy (a realmente bela Charlize Theron), para conhecer o amor, ingressar na guerra e descobrir novas feridas.
A evolução de Homer como adulto faz paralelo à decadência de Wilbur.
Hallström sempre recorre aos mesmos elementos para a eficiência de seus trabalhos: um grande elenco (além dos já mencionados, talentos como Delroy Lindo, Kathy Baker, Kate Nelligan e o promissor Kieran Culkin, irmão de Macaulay), imagens de plasticidade limpa e de impacto por vezes portentoso, cenas-chave de reviravolta e/ou intensidade emocional e mensagens de humanismo transparente. É neste terreno que ele realmente se sente à vontade.
Hallström é um cineasta tradicional em seu discurso, mas de elegante delicadeza. Sua paixão pelos personagens costuma conquistar o espectador.
|